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Para a elaboração deste livro, partimos da relexão de que
a apreensão das contradições, dos conlitos de classe e da
ação coletiva de sujeitos sociais no sentido de lutar contra
condições degradadas de vida e trabalho e de garantir seus direitos
interessa ao serviço social, especialmente, pelo fato de a questão
social ser considerada o solo de inserção do trabalho dos(as) assistentes
sociais. Além disso, no atual cenário de regressão de direitos,
uma atuação proissional pautada na perspectiva da racionalidade
crítico-dialética (Cf. GUERRA, 2004) e em consonância com o
projeto proissional tem como premissa de relevo a necessidade de
conhecer os movimentos sociais que atuam naquele contexto, bem
como pressupõe “[...] ações voltadas ao fortalecimento dos sujeitos
coletivos, dos direitos sociais e a necessidade de organização para a
sua defesa, construindo alianças com os usuários dos serviços na sua
efetivação” (IAMAMOTO, 2011, p. 199-200).
Com essa perspectiva, os capítulos 1 e 2 discutem a relação dos
movimentos sociais com a proissão. O primeiro enfatiza uma possibilidade
de construção dessa relação no âmbito da formação proissional,
particularmente por meio da experiência de extensão universitária,
enquanto o segundo centra na dimensão do exercício proissional
do(a) assistente social em sua condição de trabalhador assalariado.
Os capítulos 3, 4, 5 e 6 particularizam movimentos sociais especíicos,
com destaque maior para os movimentos pela livre orientação
e expressão sexual e os movimentos de mulheres, tanto no que diz respeito à defesa da legalização do aborto quanto no que se refere
à realidade das mulheres rurais. Fato é que ambos os movimentos,
LGBT e feministas, têm a raiz da opressão-dominação-exploração
que combatem situada no patriarcado. A exceção aqui é para o caso
do sexto capítulo, na medida em que este focaliza um outro sujeito
político coletivo: a juventude, em especial, a parcela desta que se
encontra na condição de estudante.
O capítulo 7 deixa inscrito nesta coletânea um debate sobre a
conjuntura brasileira recente, com base no entendimento de que,
parafraseando Iamamoto (2005), o atual quadro sócio-histórico não
se reduz a mero pano de fundo para que possamos, depois, discutir o
serviço social (e acrescentamos: a sua relação com os movimentos
sociais), pois tal quadro societário possui implicações na vida social
e proissional e perpassa e atravessa o cotidiano dos movimentos,
conformando tensões, contradições e desaios para a construção da
ação política e para o processo – em permanente construção – de
renovação proissional do serviço social brasileiro.
São, assim, referências interessantes para as relexões sobre a intervenção
proissional do(a) assistente social junto aos movimentos
sociais e nos processos de mobilização e organização popular. Por
esta razão, sem dúvidas, trata-se de elaborações que interessam sobremaneira
ao serviço social. Contudo, este não é um livro de interesse
exclusivo de assistentes sociais e estudantes em formação. Interessa
também às áreas de ciências sociais e humanas e a todos aqueles
que se preocupam com os desaios postos à organização popular em
um cenário no qual se acentuam as características do individualismo
possessivo, do consumismo e do medo social no ethos dominante da
sociedade contemporânea, conformando uma cultura conservadora
com traços neofascistas que – ainda que coexistindo com formas de
denúncias e resistências – pode constituir um cenário propício para a
reatualização de projetos conservadores no serviço social. Até porque,
além do conservadorismo encontrar raízes históricas na proissão, nenhuma categoria está imune a este contexto, especialmente quando
a reatualização do conservadorismo é favorecida pelas precárias
condições do trabalho e da formação.
Paulo Freire já dizia que ensinar exige alegria e esperança. No
cotidiano do trabalho docente na UFCG, aprendi que, na imensa
maioria dos dias, as únicas experiências capazes de acolchoar nosso
peito face às desesperanças que, por vezes, nos abatem na vida e no
trabalho são justamente aquelas construídas e potencializadas pelo
compartilhamento coletivo do saber em sala de aula, nas reuniões de
pesquisa, em supervisões de estágio e orientações acadêmicas e, especialmente,
nas muitas e intensas atividades de extensão construídas.
É alta a probabilidade de que, caso nunca tivesse me deparado com
estudantes dispostas a mergulharem comigo nessas experiências, há
muito não existiria em mim nem alegria nem esperança para ensinar.
Felizmente, fui frequentemente agraciada em minha trajetória docente
com este tipo de encontro genuíno com jovens pesquisadoras e/ou
extensionistas, estudiosas e inquietas. Uma parte signiicativa delas
igura no presente livro na condição de autoras dos capítulos que o
constituem. Um brinde com a certeza de que, como disse Lukács, “o
caminho acabou... a viagem apenas começa”! |
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