dc.description.resumo |
Era dezembro de 1989, no rádio uma música de Cazuza falava
de pessimismo e dor. Não havia muito para comemorar de uma
década que chegava ao fim com tantos sonhos desfeitos. Restava
muito pouco brilho do que foram aqueles anos tumultuados, a colorida
geração saúde, o rock descompromissado do Legião e da Blitz,
o irreprimível voo dos desejos, as esperanças de mudança brotando
sorridentes dos escombros de um regime em decomposição.
Falar de algo recente e, principalmente, de algo que vivemos nos
dá a oportunidade de, na interseção entre a biografia e a história, ser
um observador participante. Todavia, é extremamente complicado
decidir se o nosso ponto de vista, ofuscado pela proximidade dos
acontecimentos, é o de hoje ou o de ontem. Se falarmos pelo presente,
as emoções são mais intensas e nos fazem reviver acontecimentos de
forma visceral, mas talvez por isso mesmo, mais unilateralmente. Se
falarmos do passado, a distância da experiência fornece mais neutralidade
nos julgamentos, mas talvez por isso, de uma maneira mais fria. Entre versões e pontos de vista, talvez só imaginação nos ofereça um túnel do tempo mais confortável. Dessa forma, a pesquisa na revista Veja foi duplamente interessante. De um lado, permitiu – como quem usa fotos antigas como
muletas – recuperar lembranças esquecidas e carregá-las de energia.
De outro, forneceu elementos necessários à composição do cenário.
Mas, mais que isso, a pesquisa na revista Veja também nos auxiliou
a perceber como esse cenário refletia uma nova subjetividade
conduzida em consonância com um imaginário que se cristalizaria
na travessia dos anos 80. Através de reportagens, editoriais, entrevistas, cartas do leitor,
pontos de vistas, seções de humor, de esporte, etc., veiculados através
da revista Veja entre os anos de 1980 a 1989, procuramos reconstruir
este cenário e esta nova subjetividade. E é sobre esta nova subjetividade
que vamos falar. Como uma etnografia da contemporaneidade, buscamos reconstituir
o pano de fundo de um conjunto de transformações nos modelos
de comportamento, nos papéis sociais e sexuais, na estrutura
familiar, sujeita a novos agentes e agências externas de socialização;
na imbricação entre a esfera pública e a privada; na crescente complexidade
e fragmentação das relações sociais; na decisiva importância
da indústria cultural, determinando novos gostos, sensibilidades,
comportamentos e desejos; consolidando uma subjetividade e cultura
emergentes, marcadamente individualistas e narcísicas.
Neste ponto, interessa-nos principalmente o relato dos fatos nas
reportagens e como eles são interpretados por jornalistas, colaboradores
(pontos de vistas, entrevistas, seções) e leitores (carta dos leitores),
além da publicidade exposta na revista, capaz de nos fornecer uma
rica leitura da subjetividade, circunscrevendo temas com os quais uma
época inventa o seu próprio tempo. Assim, entre idas e vindas ao passado, devidamente reapreciado
pela imaginação, foi possível ver novos significados no contexto
recente da pós-modernidade, costurada e rasgada no vendaval de uma “década perdida”. E como numa foto antiga, posso adivinhar naquele passado em
preto e branco as cores e as sombras do futuro. Percebo que já estavam
ali, em forma embrionária, as transformações nos processos de produção
e consumo que entraram em curso nos últimos quarenta anos; o
predomínio dos novos espelhos virtuais pelos quais o real se despe e
se esconde; e a expansão e as modiicações nas formas de tecnologia
e comunicação humanas, sob o risco incessante e caleidoscópico das
redes sociais, revendo e ampliando, de formas inusitadas, a nossa
experiência subjetiva, os nossos valores, sonhos e afetos. A foto antiga
revela aquilo que o self pode esconder sob o lash luminoso do agora.
Agora, indo o trabalho, contemplo o tempo com mais serenidade,
mesmo assim, com a inquietante sensação de que o passado
jamais existiu, pois sempre haverá de habitar diferente em algum lugar
do futuro de onde a nossa imaginação o invente. |
pt_BR |
dc.publisher.country |
Brasil |
pt_BR |
dc.publisher.initials |
UFCG |
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dc.subject.cnpq |
Sociologia. |
pt_BR |
dc.title |
Espelho de Narciso: comportamento, subjetividade e desejo nos anos 80. |
pt_BR |
dc.date.issued |
2020 |
|
dc.identifier.uri |
http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/29886 |
|
dc.date.accessioned |
2023-05-22T11:16:51Z |
|
dc.date.available |
2023-05-22 |
|
dc.date.available |
2023-05-22T11:16:51Z |
|
dc.type |
Livro |
pt_BR |
dc.subject |
Anos 80 - Brasil - comportamento |
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dc.subject |
Década de 80 - Brasil |
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dc.subject |
Comportamento no Brasil - anos 1980 |
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dc.subject |
Desejo - Brasil dos anos 80 |
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dc.subject |
Cultura de massa - anos 80 - Brasil |
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dc.subject |
Símbolos - anos 80 |
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dc.subject |
Socialização nos anos 80 - Brasil |
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dc.subject |
Brasil - vida social na década de 1980 |
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dc.subject |
Narcisismo |
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dc.subject |
Individualismo |
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dc.subject |
Pós-modernidade |
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dc.subject |
Pílula da felicidade |
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dc.subject |
Usos e costumes - Brasil - anos 1980 |
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dc.subject |
80's - Brazil - behavior |
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dc.subject |
80's - Brazil |
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dc.subject |
Behavior in Brazil - 1980s |
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dc.subject |
Desire - Brazil of the 80's |
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dc.subject |
Mass culture - 80's - Brazil |
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dc.subject |
Symbols - 80's |
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dc.subject |
Socialization in the 80s - Brazil |
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dc.subject |
Brazil - social life in the 1980s |
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dc.subject |
Narcissism |
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dc.subject |
Individualism |
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dc.subject |
Postmodernity |
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dc.subject |
Happiness pill |
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dc.subject |
Uses and customs - Brazil - the 1980s |
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dc.subject |
80's - Brasil - comportamiento |
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dc.subject |
80's - Brasil |
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dc.subject |
Comportamiento en Brasil - Década de 1980 |
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dc.subject |
Deseo - Brasil de los años 80 |
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dc.subject |
Cultura de masas - Años 80 - Brasil |
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dc.subject |
Símbolos - años 80 |
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dc.subject |
Socialización en los años 80 - Brasil |
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dc.subject |
Brasil - vida social en la década de 1980 |
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dc.subject |
Posmodernidad |
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dc.subject |
Pastilla de la felicidad |
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dc.subject |
Usos y costumbres - Brasil - Década de 1980 |
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dc.subject |
Années 80 - Brésil - comportement |
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dc.subject |
Années 80 - Brésil |
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dc.subject |
Comportement au Brésil - années 1980 |
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dc.subject |
Désir - Brésil des années 80 |
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dc.subject |
Culture de masse - Années 80 - Brésil |
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dc.subject |
Symboles - années 80 |
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dc.subject |
Socialisation dans les années 80 - Brésil |
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dc.subject |
Brésil - la vie sociale dans les années 1980 |
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dc.subject |
Narcissisme |
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dc.subject |
Individualisme |
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dc.subject |
Postmodernité |
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dc.subject |
pilule du bonheur |
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dc.subject |
Us et coutumes - Brésil - Années 1980 |
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dc.rights |
Acesso Aberto |
pt_BR |
dc.creator |
COSTA, Ramilton Marinho. |
|
dc.publisher |
Universidade Federal de Campina Grande |
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dc.language |
por |
pt_BR |
dc.title.alternative |
Mirror of Narcissus: behavior, subjectivity and desire in the 1980s. |
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dc.identifier.citation |
COSTA, Ramilton Marinho. Espelho de Narciso: comportamento, subjetividade e desejo nos anos 80. Campina Grande - PB: EDUFCG, 2020. ISBN: 978-65-86302-21-9. Disponível em: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/29886 |
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