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Nos últimos anos, o olhar dos pesquisadores, no campo das Ciências Humanas, instaura uma abertura nos campos de observação, nos objetos a serem observados e, especialmente, no corpus utilizado para o estudo desses objetos. Como afirma o filósofo M. Foucault, da observação da “voz” instituída, passa-se a escuta dos “saberes locais, descontínuos, desqualificados, não legitimados” (FOUCAULT, 2000, p. 171), especialmente, a fala recusada, “o discurso anônimo, o discurso cotidiano, todas essas falas esmagadas, recusadas pela instituição ou afastada pelo tempo” (FOUCAULT, 2003). De conformidade com esse “novo” fazer científico, observaremos saberes que circulam no campo discursivo Espírita sobre a mediunidade psicográfica. Para tanto, selecionamos como corpus o texto Nosso Lar, produzido pelo médium psicógrafo Francisco Cândido Xavier, de autoria do sujeito psicografado André Luiz. Materializado no gênero discursivo autobiografia e veiculada no suporte de texto, convencionalmente denominado de livro, esse enunciado carrega marcas que denunciam as especificidades do seu modo de enunciação e, ainda, particularidades que singularizam a comunidade discursiva que o utiliza. Isto porque, conforme o teórico Bakhtin (2000, p. 279) os diferentes gêneros discursivos para que possam circular, em campos discursivos diversos, devem atender as necessidades da comunidade discursiva que os utiliza. A escolha dessa autobiografia como corpus de estudo deve-se ao fato de entendermos que a autobiografia, enquanto gênero discursivo apropriado para o relato de experiências individuais, constitui-se uma prática discursiva que atende de forma satisfatória às necessidades comunicativas desse campo discursivo. Pela escrita psicográfica, os relatos autobiográficos se constituem como um dos gêneros mais propícios para divulgar as verdades sobre a vida além-túmulo, tão caras a essa doutrina, uma vez que, a marca identitária desse gênero é o princípio do pacto com a ―verdade‖. Para subsidiar esse nosso gesto de compreensão utilizaremos os fundamentos teórico metodológicos da Análise de Discurso de linha francesa (AD), na perspectiva de M. Pêcheux, M. Backthin e M. Foucault. Conforme afirma Pêcheux (1997, p. 48), essa teoria oferece instrumentos para a compreensão não só de ―grandes‖ textos, como de textos dos múltiplos enunciadores do cotidiano, esteja ele materializado em elementos lingüísticos e/ou não lingüísticos, em qualquer campo discursivo e, ainda, em diferentes suportes textuais. |
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