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Este trabalho é um recorte da nossa tese de doutorado em sociologia que investigou a sociedade “secreta” de pichadores/as e grafiteiros/as, em Campina Grande – PB, a partir do entrecruzamento de três fios teórico-metodológicos: Etnografia, História Oral e Teoria Social do Discurso (FAIRCLOUGH, 2001). Construímos o corpus analítico com os verbos: OBSERVAR e OUVIR – observação participante e histórias de vida. Observamos sujeitos. Ouvimos cinco deles – três meninos e duas meninas. Observamos também textos e contextos reais e virtuais, além de imagens. Quanto à análise do discurso deles/as, utilizamos o procedimento metodológico da observação de excertos linguísticos (textos da pichação e do grafite, e cinco narrativas das histórias de vida). Apesar de não atuarmos na área de história, decidimos dialogar com a história oral, em razão de necessitarmos apreender as narrativas de sujeitos que vivenciam as práticas da cultura de rua – pichação e grafite. Utilizando esse caminho metodológico, recorremos as suas histórias de vida como fonte informativa, mas, sobretudo, como ferramenta para o entendimento do significado do discurso e da ação de pichadores/as e grafiteiros/as, das interfaces que se estabelecem entre eles/as e a sociedade, da instauração de suas redes de sociabilidade, enfim, das relações que se delineiam entre eles/as e o contexto sócio-histórico contemporâneo. Construir essas fontes documentais não foi um empreendimento dos mais fáceis, em virtude da dificuldade de acesso a esses representantes da cultura de rua, motivada pelo caráter de ilicitude das práticas da pichação e do grafite, como também pelo próprio estigma que ainda ronda tais práticas. Aproximamo-nos, portanto, da experiência significativa desses sujeitos, para “desvendar” nuanças da sociedade formada por eles. Pudemos verificar que a cidade funciona como guardiã do segredo que subjaz a essas práticas culturais juvenis, e que a sociedade “secreta” de pichadores/as e grafiteiros/as se constitui como um espaço híbrido de lazer, sociabilidade, rivalidade, liderança, subordinação, política e pertencimento, representando, para esses sujeitos, um locus identitário que lhes permite, paradoxalmente, uma visibilidade anônima, já que, na periferia, essa projeção não se faz possível. |
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