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Neste trabalho, buscamos compreender a relação entre Geografia e Medicina na construção do espaço hospitalar do Juvino Barreto, isto é, como as diversas teorias médicas correntes na época influenciaram na escolha da localização geográfica do hospital. Estudamos o processo de instalação de uma assistência hospitalar na cidade do Natal, iniciado com a construção do Hospital de Caridade, na segunda metade do século XIX (1855), pelo presidente de província Bernardo Pereira Passos. Acompanhamos a trajetória desse nosocômio, através dos documentos oficiais produzidos pelo governo, investigando sistematicamente as relações entre as práticas médicas e o espaço do hospital e da cidade. Depois de muitas críticas ao Hospital de Caridade, culminando com seu fechamento em 1906, preparou-se um outro espaço para o novo hospital, que acabou por se instalar no extremo norte do Monte Petrópolis, nas proximidades da praia de Areia Preta em 1909. Por que se deu o deslocamento do antigo nosocômio da Salgadeira, no Bairro da Ribeira, para a região da Cidade Nova, espaço de plena expansão da cidade do Natal? Que fatores médicos e geográficos participaram de tal escolha? Concentrando-nos no discurso de salubridade, que vinha sendo gestado desde 1835, na fala do presidente Quaresma Torreão, acreditamos que a geografia médica do Hospital de Caridade Juvino Barreto relacionou-se intimamente com certa concepção do espaço urbano e da doença, que viam nas teses médicas (os “bons ares”, a teoria dos miasmas) a solução dos problemas de insalubridade do meio urbano. Tal discurso fora apropriado pelas elites natalenses para justificar sua intervenção no espaço urbano, reordenando-o segundo seus interesses de criar uma “cidade moderna”, de “civilizar” os natalenses, tomando como modelo as cidades européias, como a Paris do Barão de Haussmman. Partimos da hipótese de que o deslocamento espacial do Hospital de Caridade, saindo do bairro da Ribeira, na Rua da Salgadeira, posterior 2 de Julho, e dirigindo-se para o Monte Petrópolis, acompanhou um plano de expansão da cidade, devendo ser compreendido a partir da produção de um discurso higienista sobre a salubridade do meio urbano e seus inconvenientes para a saúde da população. Medicina e Geografia se entrecruzaram numa politicamente eficaz topografia médica, que serviu de matriz ideológica para os rearranjos espaciais que foram produzidos no interior da cidade. |
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