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A leishmaniose visceral (LV) é uma zoonose causada pela Leishmania infantum, havendo
relatos da participação cada vez mais relevante dos felinos domésticos no ciclo da doença.
Diante disso, o presente estudo teve como objetivo avaliar o perfil epidemiológico e identificar
as alterações clínicas, hematológicas e bioquímicas em gatos naturalmente infectados por L.
infantum e avaliar as técnicas de diagnóstico para leishmaniose felina (LF). Para tanto, foi
realizada uma revisão sistemática, seguida de meta-análise dos dados quantitativos obtidos
sobre a LF no Brasil, além de coleta de sangue de 91 gatos do município de Mãe d’Água e de
427 gatos atendidos no Hospital Veterinário Universitário Professor Doutor Ivon Macedo
Tabosa, da Universidade Federal de Campina Grande (HVU/UFCG), situado no município de
Patos, Estado da Paraíba, Brasil. Os exames hematológicos, sorológicos (teste rápido DPP®
LVC, ELISA S7® e VETLISA Leishmaniose Felina IgG (Bioclin) e moleculares (qPCR),
foram realizadas a partir da coleta de sangue venoso. Os animais foram considerados positivos
quando reagentes em dois ensaios sorológicos ou quando positivos na qPCR. Os fatores
associados à doença foram determinados a partir dos dados levantados no questionário
epidemiológico e, para a avaliação da distribuição da doença no município, foi empregado o
programa QGIS. As amostras de sangue provenientes dos animais atendidos no HVU/UFCG
foram utilizadas para análises hematológicas e bioquímicas e testadas pelo DPP® e
ELISA/S7®. Além disso, os dados das fichas de atendimento clínico veterinário foram
analisadas para obtenção dos dados gerais dos animais e dos aspectos clínicos sugestivos de
LF. Na revisão sistemática, 31 trabalhos foram analisados na íntegra e, na meta-análise,
observou-se uma prevalência combinada de 11%, com alta heterogeneidade entre os estudos,
que foi atribuída às diferenças nos métodos diagnósticos e no desenho amostral utilizados; não
foi detectado viés de publicação e os métodos moleculares se mostraram mais eficazes para o
diagnóstico da doença em gatos (I2 = 57%). Os estudos identificaram o uso potencial da
sorologia em levantamentos epidemiológicos da doença em felinos, especialmente em áreas
endêmicas. Os artigos avaliados descreveram, predominantemente, sinais clínicos
dermatológicos nos gatos infectados e a maioria identificou L. infantum como agente etiológico.
A prevalência de LF em Mãe d’Água foi de 10,9%, sem identificação de fatores de risco, e os
casos se concentraram em uma área de expansão urbana. Os animais infectados apresentaram
número de hemácias, concentração de hemoglobina, hematócrito, albumina e ureia inferiores e
número de monócitos superior aos animais negativos para L. infantum. Houve concordância
pobre entre os testes sorológicos e a qPCR; nos animais atendidos no HVU/UFCG a prevalência
da doença foi de 2,1%. A maioria dos animais sororreagentes era do sexo masculino, tinha 1
(um) ano de idade e todos apresentavam, pelo menos, um sinal clínico sugestivo da LF. A
eritrocitose e trombocitopenia acometeram 28,6% dos animais positivos. O leucograma
apresentou, na maioria dos casos, leucocitose por neutrofilia. A necessidade de padronização
das técnicas de diagnóstico em felinos e da inclusão da LF como diagnóstico diferencial nas
doenças em gatos, principalmente as que cursam com sinais dermatológicos, é ratificada. |
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